segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

QUINZE DIAS VAZIOS

photo by Sigit Pamungkas
1 O sentido da nossa existência enquanto pais, um sofrimento solitário. Em quanto humanidade que somos, um vasto todo.
Análises objetivas e técnicas, esclarecimentos políticos, interpretações ambíguas e fraudulentas. Nada que ampare, nada que encoraje retomar o curso da vida com compreensão dessas arestas reais. A dor continua, os dias caem e as conseqüências se esvaziam.
O que nos falta, Santa Maria? 
A ética das relações inter-humanas.
Onde cada um se põe no lugar de cada um. Porque o lugar dos outros é indispensável para a nossa realização existencial. Não sou eu que escrevo. É Martin Buber.
Mas não conseguimos nos colocar no lugar do outro porque vivemos a Era de Narciso. Nunca, tanto. Mais, a plenitude da Década Egomaníaca. Será que Buber poderia imaginar isso no início do século XX? Ele que fala sobre a procura constante do verdadeiro em meio às múltiplas verdades? Estou chamando por socorro, estou morrendo, mas estou on-line no facebook. Eis uma reflexão ontológica para abordagens de estudos acadêmicos. Se já não.

2  Santa Maria? É quase uma utopia acreditar que, a partir daquela madrugada de desespero, a sociedade mude. Nem os jovens, nem qualquer categoria por idade, classificação social ou econômica. Nem gaúchos, mineiros ou amazônicos. Não mudaram com as Cruzadas, com as chacinas indígenas, com o holocausto judeu ou apartheid africano. Está no gênese da ambição humana. Diria que na filosofia do diálogo pós-moderno, o homem e seu saldo bancário. Acima do diálogo homem-família. É pelo “ouro” que nos desimportamos com os outros. Construímos prédios, cortamos árvores, desviamos rios, deixando rastros poluidores. É pelo “ouro” que não seguimos as leis e os planos de prevenção e proteção contra incêndios. É pelo “ouro” que burlamos as regras, conquistamos terras, matamos e aniquilamos com a dignidade dos povos. Desde Caim, desde a concretude da vida. Somos meros espectadores das  experiências humanas. Das mais ultrajantes e sórdidas. Mas, também das mais generosas. Sim, a televisão nos dá essa dimensão em tempo real, ao vivo. Se não, outro blefe humano atrás do “ouro”.

3  A Cabala é a sabedoria espiritual mais antiga do mundo. Nos seus fundamentos, a responsabilidade de cada homem pela existência a ele confiada. Na Década de Narciso, essa responsabilidade inexiste. Porque nunca carecemos tanto de ética. Está aí  o Senado brasileiro para assinar embaixo com a presidência de Renan Calheiros. Só o Eu é que vale. Ouro, brilho, espelho, fundamenta o nosso modo de existir. Mais explícito? Que aqueles que devem respostas a Santa Maria não sejam ofuscados por esse ouro.

* Minha crônica jornais A Hora, Lajeado e Opinião, de Encantado.