sábado, 22 de dezembro de 2012

FÉ NA HUMANIDADE




É tempo de Natal... Não resisto. Desculpe.
Zona rural de Medellín, na Colômbia.
Território de intensa violência e conflitos onde treze gangues disputam o poder. A maioria ligada ao narcotráfico. Mas também aglutinando ex-guerrilheiros e ex-paramilitares de San Antonio de Prado e arredores.
Uma zona dividida entre os bairros Limonar 1 e Limonar 2.

As gangues – combos ou parches -  não permitem que os moradores circulem livremente entre um bairro e outro. Uma fronteira invisível as divide. Uma área tão funesta que escondeu por muitos anos o traficante Pablo Escobar.  E onde depois das dez da noite, as pessoas não se arriscam sair de casa por medo de bala perdida, como dizem os moradores.  Sim, lembra as favelas brasileiras.

Nesse meio violento, um prédio é considerado o “ferrolho”. Lembra? Aquele totem que dá imunidade, que salva a gente quando se brinca de pega-pega.

Um prédio que simboliza uma zona neutra, onde uma vez lá dentro todos podem conversar entre si com segurança, mesmo pertencendo a gangues diferentes e inimigas.

Pensou em igreja? Em ginásio de esportes? Em uma escola?
Não. É a Biblioteca Pública El Limonar localizada bem na divisa entre os dois bairros,  com detectores de metal nas portas e vigias uniformizados.

É nesse local que os moradores de ambos os lados buscam livros, ouvem as contações de história, sentam na mesma mesa para jogar xadrez, juntos participam das atividades de leitura, acessam os computadores lado a lado, ou simplesmente conversam como se bons vizinhos. Saindo do prédio, cada um toma o rumo beligerante de sua vida.

Para que essa boa vizinhança com a Biblioteca fosse possível, a prefeitura abriu mais uma porta no prédio, em 2011.  Desde então há duas portas que se abrem para cada um dos bairros 1 e 2.
Antes, os líderes das gangues acusavam os funcionários da El Limonar de “privilegiar” moradores de uma área dominada por grupos rivais, facilitando o acesso ao espaço. Agora a situação foi resolvida e todos podem curtir os eventos culturais e literários que acontecem na zona neutra da biblioteca.

Luz Estela Peña, funcionária da prefeitura de Medellín, conta que seis bibliotecas municipais estão localizadas em zonas de conflito da cidade colombiana, sendo que três delas em áreas rurais.
Quando li sobre essa trégua literária fiquei emocionada. Uma zona de pacificação através dos livros.
Vem de encontro ao que sempre pensei: centros culturais nos bairros mais violentos das nossas cidades para comprovar que a arte e a cultura podem contribuir para a diminuição dos conflitos existentes nestas áreas.

A propósito: um bom livro de Natal para você! E uma boa leitura de mundo com fé e solidariedade.

* Minha crônica nos jornais A Hora, Lajeado,  e Opinião, Encantado.

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