domingo, 9 de setembro de 2012

SEM NOSTALGIA


Feriadão de Sete de Setembro, muita gente viajando. 
Estradas tumultuadas, aeroportos congestionados. 
Ai, cada vez que ando de avião preciso tomar um balde de maracujina para disfarçar as perturbações nervosas e a lógica subjetiva das quedas aéreas. Embora reconheça que uma das maiores facilidades, em tempos de economia semi-controlada, ainda é viajar de avião. 
No meu caso, com as milhas somadas no cartão de crédito ou com passagens compradas com meio ano de antecedência e paga por elas tanto quanto pagaria de ônibus até Iraí - via Carazinho.

Então, você escolheu a cidade maravilhosa para viver o feriadão?

Ora, “todo mundo” tem um amigo ou parente no Rio de Janeiro. Não hesite em tocar a campainha. Nada de hotel: afinidades com os primeiros; sangue do nosso sangue, com os segundos. Tudo mais em conta.

Sim, o Rio continua sendo a capital brasileira das areias e da leveza sustentável de viver bem: os cariocas patinam, andam de skate, pedalam, jogam ou se exercitam na beira da praia. Já os turistas tupiniquins derretem, assam, bronzeiam-se e viram kibe.

A cidade até poderia ser mais maravilhosa ainda não fosse o noticiário revelar a violência e a corrupção, obrigando a gente se cuidar. Mas juro que não vi nada na minha última zanzada na Lapa. Muito menos na primeira, aos 14 anos, quando viajei de ônibus não-leito. Ahã, farofada das boas e cãibra. Uma noite e dois dias até desembarcar em Copacabana. E quando me vi naquele calçadão sinuoso, preto e branco, desbundei – para usar a gíria da época.
Aliás, em alguma década do século passado – cruzes! cruzes! – a gente até podia madrugar nas areias mornas de Ipanema que não corria perigo de ser confundida com mendigo ou crackeiro. Necessidades intestinais no mar, um drops Dulcora para tirar o bafo, um lanchinho Mirabel e uma água de coco para repor as energias e pronto para encarar mais um dia de hippie burguês. E foi o que fizeram dois amigos naquele verão. Coisa de magrinhagem – repito, na gíria da época.

No fim, os meninos acabaram mesmo na casinha do elevador do prédio do meu tio, aos cuidados da Rosinha, que durante o carnaval desfilava pela Mocidade Independente Padre Miguel. E eu, quinze dias depois, com a epiderme dourada voltava para o sul, ainda gelado, mas com uma tanga lilás escondida na mala. Na voz de minha avó: “Judiaria os meninos dormirem na praia...” 

Mas, judiaria mesmo era a obrigação de marcharmos todo Sete de Setembro, em plenos anos de ditadura, na ignorancia total sobre o que acontecia nos porões do nosso país.

P.S. Dia 12 de Setembro, 4ªf, às 18h, estarei em Estrela, no Café com Prosa, junto ao Centro Clínico, lançando meu livro “Intrigas da Colônia”. Vou esperar por você!

* Minha crônica nos jornais Opinião, Encantado e A Hora, Lajeado.



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