sexta-feira, 22 de julho de 2011

CRÔNICA: INTERPRETANDO A AMIZADE


Não sei se por causa da chuva que caía, por causa do telefone silencioso, das mensagens via email, da casa vazia, quando dei por conta lá estava eu confabulando distraída sobre o Dia do Amigo. Vale uma crônica? Divido com os dez leitores, que prestigiam com sua paciência de leitura, meus particulares microorganismos pensantes:

  • E precisa mesmo de data para lembrar o Amigo?
  • É na infância, de contornos distantes e quase irreais, que buscamos os amigos, suas confidências e molecagens. Nada é mais triste de que uma infância sem amigos. Criança que pouco convive com amigos já traz consigo uma solidão adulta, que carrega por toda a vida. E, às vezes, por conta dessa solidão, a vida se vê abreviada antes do tempo.
  • Os sinceros amigos dão sentido às alegrias, às tristezas e às burradas. Assim, por essa ordem.
  • Os melhores amigos te cobram. Os conhecidos dão de ombros...
  • Dia do Amigo valoriza aqueles que, pelo menos, podem contar com um único amigo. No final da vida quantos estarão lá para dividir o vinho?
  • Uma coisa é convívio social. Amizade sincera é bem outra. Não se encontra em salão de festa nem em homenagens convencionais.
  • Amigo tem algo a ver com rotina doméstica. No sul, particularmente, com chimarrão. Amigo fala e ouve e passa a cuia, seguindo a  roda das confidências.
  • Interesses não solidificam amizades. Talvez gerem empregos, riquezas, viagens, promoções e o silêncio na hora das acusações de pilantragem.
  • A verdadeira amizade guarda luz e lenço para as horas certas. Os conhecidos guardam confetes.
  • Amigos são imprescindíveis para nosso crescimento por essa caminhada infernal aqui na terra. Os conhecidos são para passeatas e bailantas.
  • Com amigo de verdade a gente cresce; com conhecido, engorda.
  • Conflito: um amigo real ou dezenas de amigos virtuais?
  • O Dia do Amigo foi criado por alguém com complexo de culpa?
  • Ou por alguém que só tinha tempo para os conhecidos, para juntar grana e para os familiares que trazem problemas?
  • Quem inventou mesmo? Uma Câmara de Dirigentes Lojistas que pensava em faturar mais uma data? Nãoooooo! Foi um argentino. Ta no google. Pesquise você também.
  • Pense nisso: eu não quero ter um amigo de verdade; quero ser.

Então, bem cedinho naquela quarta-feira molhada, acreditem, recebi a visita do meu melhor amigo, pelo correio: um livro! Juro. E feliz da vida voltei para debaixo das cobertas, abri um chocolate e comecei: “... ser outro ainda no fazer tudo por um outro.”

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