sábado, 7 de maio de 2011

(INS) PIRAÇÃO MATERNAL

 Quero escrever sobre as mães.
Afinal domingo é o dia que reservaram para elas. Elas!
Acreditem: já comecei e recomecei umas cinco vezes essa crônica para o findi.
Se não sai bobo, piegas, o texto parece implacável, embrulhado, infiltrado.
Mas como é que a gente pode escrever se toda hora uma interrupção enervante?
A Carteira bate na janela: Contas! Multas!
Um café rápido e o feijão no fogo.
A cama para arrumar.
O telefone...
Roupas no armário.
A maquina de lavar.
Uma corrida até a fruteira.
O telefone...
A mulher que vende vassoura grita: ôôô vizinha! lembrando que a calçada está coberta de coquinho. Varrer agora, justo agora, criatura?
O telefone: a comadre vem tomar o chimarrão das dez e meia.
Uma corrida para disfarçar a bagunça da casa.
Alguém bate palmas na frente da casa: quer cortar grama, dona?
Não, não quero. Que o mato invada tudo. Obrigada.
Dependurar as roupas no varal, ligeiro antes  que a...
Chegou. Sentamos em baixo da jabuticabeira.
O telefone.
- Deixa tocar.
Água no feijão.
Feijão?
Um cheiro de queimado. Fumaça. Levantamos correndo.
- Abre tudo, abre tudo e bota a panela lá fora.
Sentamos, mas eu não tiro a crônica da cabeça que preciso entregar na 5ªfeira de manhã.
- O que tu acha?
- Acha o que?
- Dar uma saladeira para minha mãe no dia dela.
- Ta louca?
- Bombom de licor?
- Mas a Páscoa não foi semana passada?
- Uma blusinha de lã?
- Todo ano a mesma coisa?
- Pijama e chinelinho?
- Ai...
Telefone. É o pessoal do jornal: e a crônica?
A comadre vai embora.
E eu volto para o computador e escrevo a penúltima linha do último parágrafo:



(E foi o que deu para fazer, dona Ada.)

Um comentário:

Anônimo disse...

ficou ótimo!
é isto, mãe é aquela que corre pela gente e a gente corre dela.
depois a gente corre pra vida e tem vontade de correr para ela e falta tempo.
tá muiiito bom, parabéns!

feliz dia das mães pra ti!