sábado, 26 de fevereiro de 2011

PRECISAVA DIVIDIR

Hoje em dia não dá para abrir a boca e falar em preservação do meio-amb... que sempre alguém do lado deixa escapar baixinho, mas suficientemente audível: “mais um ecochato...”.
Dá uma raiva. Como é que um graduado pode ignorar atitudes  tão elementares como plantar ou proteger uma árvore?
Deu.
Precisava desabafar.

Sabe aquela rodovia já gasta - mas inaugurada como nova - que a ex-governadora veio brindar nos últimos dias do seu governo? A RS 471? Aquela que passa  por Encruzilhada e vai até Canguçu?

É de um verde sem fim: de um lado parreiras de uva verticais e do outro, um mar de soja.
É muito tranqüila: de um lado pequenos milharais e do outro, extensões de acácias.
É um cenário exuberante: coxilhas à direita, planícies sem horizonte à esquerda.
E é barbaramente poética:  Menino Jesus,  Ponte da Miséria, Coxilha do Vento, Alto das Figueiras, Passo do Marmeleiro, Coxilha do Fogo, Passo dos Pessegueiros, Passo do Marinheiro, Rincão do Nascente e Assentamento Renascer...

E ainda é bem capaz de você encontrar entre o vazio e o hiato, um cirquinho mambembe, uma igrejinha antiga e abandonada com o confessionário quase no asfalto e um cemitério a lá almodovar dando um toque de cor na paisagem.

Se o destino te levar a Pelotas siga sem pressa por essa rota.
E na volta me traga um buquê de macelas.
Precisava contar!



A cada hora de viagem, contei uma curvinha.
Daquelas bem suaves.
Depois de Rio Grande até o Chuí uma reta só e só não dá sono porque o meu olhar é novo: cupinzeiros, figueiras, açudes e lagoas, silos e butiazeiros.

E ainda tem a Estação Ecológica do Taim que pareceu em estado de seca, com um minguado de água onde avistei jacaré de papo amarelo jacarezando, umas capivaras arriadas na sesta do meio-dia, algumas garças cor-de-rosa e se não me falham os conhecimentos uma ave que parecia um pavão, que talvez ali de intrometido junto com um gado bonito e também vistoso.
Nosso chão – ou seria querência? – é digno de enciclopédia fotográfica.

Na volta dei uma paradinha em Santa Vitória do Palmar onde conheci o viveiro do seu Manico. Voltei em estado de graça com dois butiazeiros, um cinamomo, uma chuva de ouro, um brinco de princesa, um araçá e duas buganvilles.
Preciso plantar!

* Minha crônica nos jornais Opinião, A Hora e http://www.regiaodosvales.com.br/principal/

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