quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

PARRESIANDO

 “Michel Foucault, em conferências na Universidade de Berkely, em 1983, revisitou o tema da parrésia, palavra grega que aparece pela primeira vez na obra de Eurípides, há sete séculos, e significa franqueza ou, etimologicamente, “dizer tudo”.

O parrésico, o que fala a verdade, merece credibilidade por sua ética e coragem. Pois não se trata de apenas manifestar o que pensa, mas fazê-lo com risco de vida, ou seja, confrontando o poder. E o poderoso pode puni-lo por tamanho atrevimento.

A parrésia é uma forma de crítica -­ afirma Foucault -­ tanto ao outro quanto a si mesmo, mas sempre numa situação em que o crítico encontra-se numa posição de inferioridade em relação ao interlocutor. 
 O parrésico é sempre menos poderoso do que aquele a quem dirige a palavra. A parrésia vem  “de baixo” e se dirige a quem está  “em cima”.

Por isso, um antigo grego não diria que um professor ou pai que critica uma criança faz uso da parrésia. Mas quando um filósofo critica um tirano, quando um cidadão critica a maioria, quando um aluno critica o professor, então utilizam a parrésia.”

“O adulador, por não ter caráter, não vive uma vida escolhida por ele mesmo, e sim pelos outros, e modela-se e adapta-se para o outro; não é simples nem coerente, mas ambíguo e contraditório, por fluir e mudar de forma como a água que, vertida de um recipiente a outro, adequa-se à vasilha que a recebe.”

“Quem dera que aqueles que ocupam uma função de poder ­ do político ao síndico do prédio, do gerente à guardiã da capela ­ estimulassem aqueles com quem e para quem trabalham a manifestar suas críticas e sugestões. No entanto, nossa vaidade torna os nossos ouvidos moucos. E qualquer crítica é recebida como punhalada em nosso ego.

Sobretudo aqueles que, entre nós, têm baixa auto-estima e necessitam, como o peixe da água, viver cercados de bajuladores.”
(...)
Em geral preferimos nos iludir convencidos de que os subalternos pensam a nosso respeito o que gostaríamos que pensassem.  E sem dar-lhes chance de nos corrigir, vamos arrastando vida afora os nossos defeitos, que prejudicam a terceiros e nos colocam no pelourinho do ridículo.

Frei Betto em  “A ousadia da franqueza”


 * Photos históricas de Lajeado no tempo da ditadura. Meramente figurativas. Arquivo desconhecido.

7 comentários:

Luís Galileu G. Tonelli disse...

Belo exercício o da leitura deste texto.

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Olhando as fotos lembro como havia filhos da puta aplaudindo os gorilas. Melhor dizendo, os gorilas só saíram dos quartéis insuflados por esses filhos da puta mais a Opus Dei, hoje um partido político bem identificado e como sempre com o aval do império do Norte. Desgraçados.

Roberto Ruschel disse...

Pois eu tenho saudade desta época, mas não sabia que era um filho da puta, vou hoje ainda perguntar para a Dona Maria, que está com 84 anos, e certamente não mentirá para mim.

serjao disse...

Wow,pelo que vejo, Lajeado, nesta epoca , devia ser um baita cabare - ta todo mundo aplaudindo,principalmente criancas!Sera Jorge? Concordo com o Roberto.Tambem vou perguntar Pra Dona Nilse, que acaba de completar 80, se e verdade que eramos todos "putinhos" e "putinhas".Ela tambem nao vai mentir.

JORGE LOEFFLER .'. disse...

Por favor, Laura posta o comentário a seguir.
Sinto-me constrangido e envergonhado pelo que afirmei, pois me esqueci de ressaltar no texto que sempre há as exceções, dentre as quais tanto o Roberto quanto o Serjão, pelos quais tenho enorme respeito se incluem assim como muitos outros leitores a quem ofendi sem o propósito.
Explico minha razão de tanta raiva com a tal ditadura. Eles jogaram jovens universitários pelo "crime" de pensarem diferente, dentro de cadeias com os demais criminosos que foram pelos mesmos alfabetizados e politizados e hoje temos uma bandidagem que desnecessário descrever. Basta citar o caso do Marcola. Como as mulheres de generais e incentivadores do golpe tinham titulação superior e eram professoras assim como queriam melhores salários foi inventado o Plano de Carreira. Dali para frente é o desastre que todos sabemos. Surgiram cursos de pedagogia e letras em todas as esquinas vez que ao magistério apenas interessava e interessa melhor salário. O ensino tanto no primeiro quanto no segundo graus é de dar dó. Necessário contar com a boa vontade de profissionais de outras áreas para dar aulas de matemática, física, química e biologia, principalmente. Estarmos afundando em termos de educação (ensino) e isto só não percebe quem fecha os olhos à realidade. Os mesmos jovens jogados nas cadeias acima citados foram os que o povo elegeu para construírem a Constituição Federal que temos e que realmente cria enormes embaraços ao governo e à cidadania. Nela foram inseridas matérias que deveriam ser objeto da legislação infraconstitucional. Eles assim procederam receosos de voltar a enfrentar tudo aquilo que lhes foi imposto nos idos da ditadura. Mais uma vez caros Roberto, Serjão e tantos outros a quem involuntariamente ofendi minhas sinceras e reais desculpas pelos constrangimentos causados.

Roberto Ruschel disse...

Seu Jorge, de minha parte, seu pedido de desculpa teve bom acolhimento na familia.

serjao disse...

Desculpas aceitas.Sigamos adiante Jorge.