sábado, 19 de junho de 2010

SARAMAGO: O ÚLTIMO CAPÍTULO

Na mesma hora em que aglomerados de torcedores e turistas assistiam pelos telões ao jogo em que a Alemanha perdia para a Sérvia, por entre os locais turísticos de Lisboa, o editor do polêmico José Saramago anunciava a imprensa, a morte do escritor, ontem às 10h, pelo horário de Brasília.

Ao ser entrevistado, o primeiro-ministro José Sócrates afirmou que a morte representa ‘uma enorme perda para a cultura portuguesa’, mas evitou comentar o caráter controvertido do escritor: ‘Não devemos tratar esse acontecimento do ponto de vista mesquinho. Deixemos isso para outra altura’.



Em 1991, quando Saramago lançou sua obra mais polêmica, ‘O Evangelho Segundo Jesus Cristo’, o governo considerou uma blasfema e a obra foi excluída de uma lista de romances portugueses candidatos a um prêmio literário, sob a alegação de que não representava o país.


O partido comunista português, ao qual Saramago era filiado, pediu em entrevista coletiva que o governo decrete luto pela morte do escritor que conquistou o único Nobel de Literatura pelo seu país em 1998.



Saramago, morto aos 87 anos, deixa um legado de composições literárias marcadas pelos períodos longos e pela pontuação quase inexistente. Diários, contos, peças, crônicas e poemas, também fazem parte do conjunto da obra do escritor, que tem origem em uma família portuguesa humilde.


A Fundação José Saramago (http://www.josesaramago.org/) transformou sua página na internet em uma manifestação de luto, apenas com a informação da morte, sobre fundo preto.



Saramago dizia que gostaria de ser recordado como "o escritor que criou a personagem do cão das lágrimas" no "Ensaio Sobre a Cegueira". Também assegurava que a morte não o assustava:


"O pior que a morte tem é que antes estavas e agora já não estás."




Em Portugal, o Conselho de Ministros oficializou dois dias de luto nacional - sábado e domingo - pelo único Premio Nobel da Literatura português.

Fernando Meirelles, cineasta brasileiro que levou o "Ensaio Sobre a Cegueira" para o cinema, disse tudo:

"A lucidez naquele grau é um privilégio de poucos, não consigo escapar do cliche, mas definitivamente, o mundo ficou ainda mais burro e ainda mais cego hoje".

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