quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

E POR FALAR EM CASAMENTO...





“A Clarice Lispector, que amou o romancista Lúcio Cardoso, que era homossexual, decretou: “a vida conjugal sufoca”.O sufoco é um clássico, para homens e mulheres, claro. Mas especulo se esse veneno não é mais venenoso para as mulheres.

Especulo se toda essa futilidade que vemos nas novelas da TV, nas capas das revistas femininas, se todo esse consumismo boboca, não é uma resposta – meio histérica, meio neurótica – das mulheres ao sufoco da vida conjugal. (Onde andam as Susans Sontags de agora?)

Em Cenas de um Casamento, do Bergman, a personagem da Liv Ullmann se surpreende ao se identificar com uma mulher mais velha, que diz que depois de anos de casamento “tudo parece insignificante, cinzento, indigno”.

O casamento foi tido sempre como um projeto feminino. Como se numa relação familiar estável todas inquietações “delas” se resolvessem. Mas mesmo que o folclore diga o contrário, mesmo que os homens jurem o reverso, talvez a vida conjugal tradicional seja muito mais uma necessidade masculina.

Semana passada um homem executou a tiros, à queima-roupa e à luz do dia, diante de testemunhas, de câmeras, a mulher que não o queria mais. A faísca da loucura resolvendo a tragédia que é para um homem abandonado existir.“As ideias perturbam a regularidade da vida.”

Em parte talvez isso explique o fato de algumas mulheres de ideias, como a Susan Sontag, optarem por um outro tipo de vida conjugal. ”

É que homem sufoca.”


Jose Pedro Goulart
Na íntegra: ZH de hj

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